quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Estamos em Casa.


Estamos em casa. Todos de volta a rotina e ao convívio com seus entes queridos. Há uma semana em terras mineiras  onde o mar é de montanhas e ainda é difícil não sentir o chão balançar sob nossos pés. A imensidão do rio é tamanha que transforma sonhos em realidade. Os últimos instantes de nervosismo e tensão, onde era preciso respeitar a maré e temer os piratas, aos poucos se distanciam e buscam o abrigo incerto da memória.  Nós remamos, transformamos a história de sobrevivência Kalunga em uma aventura moderna, tempo e memória se entrelaçam como as águas do grande rio se entrega ao mar. O sal devolvido à foz retorna a sua primazia oceânica.
Esperamos que a experiência tenha sido vigorosa para todos os companheiros de aventura e travessia. Obrigado equipe expedicionária Rota do Sal. Florisbela dos Santos,remadora e assistente de direção, Gabriela Rodrigues, produtora de campo, Emerson Azeredo,remador e coordenador de logística, Gustavo Baxter, fotógrafo, e Tom Amâncio, cinegrafista e assistente de direção. Valeu amigos, irmãos... realizamos a grande aventura, remamos a Rota do Sal Kalunga.  
                Obrigado às pessoas que estavam na base. Nossa produtora executiva Rosangela da Silva, que não desgrudou os olhas em nenhum instante apesar de estar distante, e Marcela Oliveira,  nossa estagiária que nos momentos de pânico estava sempre presente em Belo Horizonte. A Dupla Informação, especialmente a Ariane Lemos e ao Fábio Gomides que veêm cuidando  de nossa assessoria de comunicação e sempre buscaram atualizar nossos avanços.  
Imaginando um grande post comemorativo desta data, realizo que somente 50% do trabalho foram concluídos. Certo que foram os 50 mais exigentes fisicamente, mas ainda assim apenas 50.  Temos muito a comemorar. Todo o material coletado, toda a experiência adquirida, 1950 kms de rio brasileiro de centro ao norte remados por um argumento comum, 11 mil acessos em 4 meses, etc.

Hora de retornar ao trabalho. Obrigado a todos que de alguma maneira acreditaram e acompanharam nossa trajetória até aqui. Estamos quase lá. O trabalho que começa agora é tão importante e empolgante como o que passou. Em breve teremos muitas novidades aqui em nosso blog, que será totalmente remodelado. Não deixe de acompanhar, fotos, ensaios e hot sites inéditos.















quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Estamos em Tucuruí do Pará




Vencemos o quarto e último represamento do rio para hidrelétrica. Foram cinco dias intensos de remadas duras, todo o tempo seguindo contra o vento. A hidrelétrica de Tucuruí é realmente monstruosa no tamanho de seu reservatório. Foi a mais difícil de todas. O vento e o banzeiro tornaram nossas remadas deveras pesada. Não chegamos a passar pelas faladas e perigosas tempestades de banzeiro, que segundo ribeirinhos chegam a formar ondas do tamanho de uma casa. Em alguns momentos navegamos a 5 kms por hora, a menor velocidade de toda a expedição. Deixando Marabá, ainda percorremos um trecho de rio até Itupiranga. O rio de largura fenomenal, se abria em diversos canais e a transformação da paisagem se completava, estávamos de fato em ambiente amazônico.
Agora temos como barco de apoio o São Jorge, comandado pelo Zé do Rádio, e pilotado pelo Besouro, dois figuras que viveram toda suas vidas no rio e que contratamos para serem nossos guias. Colhemos algumas histórias interessantes durante estes dias de água parada e sol quente. Na vila Taury, ouvimos histórias sobre a cachoeira do Taury, ou como é conhecida localmente, cachoeira do `Lourenção`: os naufrágios, a origem do lugar, os períodos da borracha, da castanha, e do diamante. Conversamos com alguns moradores das ilhas que se formaram a partir do represamento do rio, São lugares que despertam um grande sentimento de solidão e coincidência ou não acampamos em duas ilhas habitadas apenas por um morador, Pessoas simples e de coração aberto que logo se dispuseram a nos abrigar e nos contaram um pouco de suas histórias.
A imensidão de fato impressiona a retina, e a proximidade com a floresta é coisa de filme. Nossos acampamentos, agora podem ser feitos inclusive dentro do barco “São Jorge” que precisa apenas estar ancorado em lugar seguro e protegido do vento. A paisagem sempre paradisíaca, cercados pela floresta equatorial e com trilha sonora pseudoeletrônica de dezenas, ou diria centenas de macacos guariba que todos os dias ouvíamos bem perto de nossos pousos.
Completamos nossa chegada no quinto dia, em um lugar chamado Onze, uma vila de pescadores bem em frente a barragem. Alí graças ao nosso patrocínio da Eletrobras, conseguimos articular um contato com o operador da eclusa de Tucuruí, Recém inaugurada a eclusa ainda está em fase de testes e implementação. Fomos recebidos pelo Inaldo e Carlos Gil, que após nos explicarem o processo que iríamos adotar e combinaram para o dia seguinte nossa “inauguração” da eclusa. Agradecemos a Eletronorte – Tucuruí pela forma que fomos recebidos.
Zé do rádio, Besouro, o velho barco Saõ Jorge, e a tripulação da expedição rota do sal foram alguns dos primeiros civis e ribeirinhos a testarem a maior eclusa da America Latina. Dentro das duas enormes câmeras de “eclusagem”, foi visível a emoção e a comoção de nossos barqueiros, e amigos. Sozinho lá dentro, o velho barco “São Jorge” ouvia o ranger da água e o escorrer dos ferros enquanto a enorme caixa dágua se esvaziava o barco ia descendo lentamente relembrando sua própria história de velho navegante de madeira. Abriu - se a última grande porta e literalmente vazamos ao baixo Tocantins e tivemos com o porto da cidade de Tucuruí.
Acompanharam também e muito acrescentaram com suas experiências de mateiros amazônicos, os bombeiros da corporação de Marabá, dos quais fazemos questão de agradecer nominalmente o Sargento Aurino, o Cabo Belém e Cabo Filho todos nascidos e criados nas ribeiras do Tocantins, se mostraram companheiros de grande valor em nossa travessia do grande lago monstro de sete cabeças.













segunda-feira, 18 de julho de 2011

Chegamos aos 1.000 KM!


Estamos em Aguiarnópolis, na margem esquerda de quem desce o lado tocantinense do rio. Estreito do Maranhão é o outro lado. Aqui está sendo concluída a mais recente barragem do rio para hidrelétrica. Em nossa rota vencemos o terceiro represamento, onde a água fica pesada e corre lenta por nossos cascos. A paisagem às vezes impressiona pela imensidão quase igual ao mar, mas a tônica constante é a monotonia de longos trechos de remadas fortes e deslocamento lento. Vencemos, e ao olhar para trás enquanto remamos observamos claramente e em sentido literal nosso passado. Do presente para o futuro a contagem agora é regressiva. Pelos cálculos aproximados, acreditamos estar a cerca de 850 kms do Porto do Sal em Belém do Pará. Nosso GPS marca no momento em que aqui estamos aportados 1012 quilômetros e 900 metros.

Dos últimos portos, trazemos na memória e em nossos bits bons momentos e novas amizades. Babaçulândia volta a se embelezar após o enorme impacto da barragem. Pitoresca cidade enquadrada entre chapadas de mesa e planícies. Agora tem um lago e saudades da velha praia do coco. É notável a mudança na feição das pessoas desde a passagem da pré-produção em novembro do ano passado. Nos também ficamos chocados naquele momento de saber que no ínicio deste ano era a data marcada para o início do enchimento do espelho dágua, diversos pontos históricos e de beleza única estariam embaixo dágua quando voltássemos. Entre eles, a ilha dos Botes, e a Ilha de São José, a ex-segunda maior ilha fluvial do mundo, perdendo apenas para Ilha do Bananal.Desde Palmeirante - TO já havíamos começado a navegar sobre a influência do represamente. Em Carolina a primeira cidade do maranhão a memória ainda é clara sobre a ilha dos botes e sua movimentada agitação cultural durante séculos, sendo recentemente o palco de uma importante “rave” do cenário da música eletrônica.

Navegamos por sobre seus restos de árvores que apesar de afogadas, ainda exibem suas copas exuberantes em pleno sufocamento. Na ilha de São José, com cerca de onze kms de extensão viviam cerca de 200 famílias, todas elas removidas e reassentadas. Aproveitamos para ouvir um pouco de suas histórias e graças ao apoio da Prefeitura de Babaçulândia conseguimos nos locomover mais ágeis em busca de nossos personagens. Encontramos ainda com o poeta Antonio Brito e seu filho para uma sessão de poesias da antiga beira rio. Conhecemos Dindó antigo mecânico e barqueiro, que sacando seu caderninho de notas, foi diversas vezes direto na questão da navegação, tendo sido ele mesmo responsável pelo transporte de diversas cargas por sobre as águas. Deixamos a cidade, felizes com as obras de um enorme calçadão beira lago a todo vapor, e com a inauguração da nova praia do coco, que das artficiais que atravessamos até agora vem a ser a mais bonita. Remamos, atravessando banzeiros, ventos e enormes lagos. Amanhã voltamos ao rio corrente rumo a Tocantinópolis - TO e Porto Franco - MA.





sexta-feira, 8 de julho de 2011

Maranhão 66 – “Valeu mestre, aqui chegamos!”

             
            A remada foi dura, o caminho foi longo, parecia sem fim e ainda, o rio represado. Remamos sobre a influência da terceira e mais nova hidrelétrica do  Tocantins, conhecida como do Estreito.
Carolina do MA, a “Atenas do Sertão”. Talvez a cidade mais importante e esplendorosa da Rota do Sal durante o período das grandes navegações pelo Tocantins. Carolina foi o grande centro distribuidor de mercadorias advindas de Belém do PA, para toda a bacia do Tocantins. Passamos por cidades das mais isoladas do país. Itapiratins e Tupirantins, Palmeirante , Barra do Ouro, Filadélfia, prometemos uma barra de chocolate, para quem ler este texto e que já tenha visitado  alguma delas. Atenção: esta promoção não vale para moradores do estado que da nome ao rio.