Diário da Gabi Rodrigues


Produtora de logística  em campo da Rota do Sal. Mestre em Biodiversidade e conservação pela UFMA com recorte em “paisagens quiombolas”. Especialista em Estudos e africanos e afrobrasileiros pela PUC MINAS,  recorte em “cotiadianos afro”. Especialista em Educação Ambiental voltado a Recursos Hídricos pela USP, recorte em Educação Ambiental  e Ecoturismo, Turismóloga pelo Centro Universitário Newton Paiva , recorte em Turismo Comunitário e manifestações culturais.


 
Dia 1 de Agosto ! EHHH !!!  – Já já estaremos lá ....

         To ak em São Sebastião do TO , na padaria lan-house , aguardando um tal de computador funcionar ... lá fora tem cor de chuva ... e um calor ! Eu estou com no mínimo 100 picadas de mosquito principalmente pelos braços e costas ...lá fora “atroveja “ ou “ troveja “ do verbo “ trovejar “ ( será que é isso mesmo ? risos ...), Tomara que caia uma chuva para que possamos cheirar , ouvir e ver ...



Dia 24 de Julho – Domingo na Aldeia Apinagé Mariazinha – Tocantinopólis,  TO

         Fomos para um casamento – me pintei agora com os traços Apianagés ( na verdade esse era o traje do casamento )... A pintura dos noivos ela com 12 anos e ele com 15 anos – era especial e tinha uma finalização com o Urucum e lindos colares de miçangas. Esse era o traje dos mesmos ... Que simplicidade mais linda : eles estão sentados em uma mesa que na atualidade tem refrigerantes, pedaços de pão, e dois “cunhados” guardando a cabeceira dela – um do lado e outro do outro! Seguiram para a casa do noivo e também são recebidos com o mesmo estilo de mesa... é feito um “ discurso  cerimonial “em língua indígena... O noivo e a noiva morarão por 1 ano na casa dos pais dela – depois que ele pode construir a casa deles ! ( Bonita cerimônia).


Dia 18 de Julho – “Dia do Meu ano novo” !
        
         Meu aniversário ! Mais uma vez fora de casa e sem tirar uma determinada pessoa da minha cabeça e do meu coração ! Mas vamos que vamos ...Obrigado pelo o meu ano novo meu Deus todo poderoso !




Dia 17 de Julho A Lua e o meu ano novo ...

         Ontem eu tomei um super banho de Lua ... que delícia o pôr-do-sol resultado de um dia nublado e pouco colorido ... mas com rajadas em tom de cores que pareciam pinceladas em aquarela ! E pouco mais tarde a Lua ... senhora lua surgindo nesse lago dos “ 1000 km” remados ... para  Belém ! Em tom e cara de mistério – meio enevoado , mas sempre prata. Entrei para a minha barraca e ela como um botão luminoso mirava lá de dentro onde estava deitada e me iluminava ... resolvi deixar somente a portinha de telinha aberta e realmente adormeci me entregando a sua luz. Depois de muito com ela conversar : fazendo uma retrospectiva dos meus esperados e felizes 31 anos , com toda a minha altivez de cantoria, forró, festa, florais, amigos, comidas, mar, sol, praia, figuras interessantes e a Ilha Magnética ... e mais um tanto de coisas. E agora aos 32 que vem chegando como todo ano novo ... NOVO ! Com expectativas e também consciência de que esse ( depois de tudo), é o ano da sustentação de tudo que foi vivido até agora e aqui. De tudo que foi aprendido e que agora precisa ser aplicado – porque a minha vida realmente tem os cursos que eu defini sustentado pela a minha vivência andarilha e filha querida ... Que venha o nosso ano novo ! 18 de Julho meu aniversário na Rota do Sal !  


A estrutura e logística da Expedição da Rota do Sal

Desde do acampamento Hi-tech que quero escrever sobre a nossa estrutura de logística mas irei conseguir : Somos uma equipe de 7 pessoas, mas nos deslocamos no estado do TO e MA com 11 pessoas, contando com o peloteiro da Naturatins e 3 membros do corpo de bombeiros. Navegamos com 4 embarcações : 2 caiaques oceânicos duplos, um barco a motor ( no qual eu viajo) e uma lancha de segurança dos “bombs” ( Comando de Bombeiros do TO). Para morar temos 7 barracas, 3 redes com mosquiteiro e uma cozinha composta por 1 fogão de montanha , uma “mochila cozinha” com talheres , combustível para o fogão e etc, 3 galões sendo 2 de mantimentos e um que leva as barracas , repelentes, protetores solares e etc... Temos um kit de Primeiros Socorros e cada um tem no mínimo uma mochila grande – fora os isolantes e sacos de dormir ...é incrível pensar nessa trajetória que nos coloca em um estado nômade: socialmente formamos um grupo de viajantes – turistas que se deslocam por 35 pontos planejados, passando por 4 estados , 2000 km e uma Rota do Sal ! A rapidez de nosso montar e desmontar muda toda a paisagem a ao pensar que quando chegamos  no ponto de acampamento , montar a nossa “ mini cidade andarilha “ e no outro dia ao sairmos e olharmos para o lugar onde estávamos, ele volta a ser o que era sem a “mini – cidade”. Que agora já se transporta para  outro ponto desce rio-lago do TO. A logística ainda conta com a transposição de 4 grandes barragens , nesse momento retiramos tudo da água o transportamos para o próximo ponto de partida ... Fora as transposições (que aliás hoje tem a penúltima), mais tarde voltaremos com tuuuudooo novamente para a água... Bom dia !



Dia 02 de Julho

         Saímos ontem de Itapiratins – “ pacato interior “ ainda a beira de um rio de verdade que ainda não virou lago ( termo usado para engabelar as pessoas que vão perder um rio e ganhar uma usina hidrelétrica ), enfim estava a beira do rio do TO depois de tomar um banho com várias crianças meninas ... e aí vi um menino que logo trouxe a minha memória como deveria ser meu pai quando era pequeno ... um dia estávamos conversando no “ Bar do Léo “ em São Luís –MA e ele começou a falar sobre como ele era  : andava a cavalo no pelo , pescava, tomava banho de rio... sei que estou com muita saudade dele...



Dia 29 de Junho
 
         As várias praias do Rio Tocantins ...hum... estamos em uma temporada no qual o leito do  rio baixa e surgem várias praias ao longo do Tocantins ... As praias têm estrutura de “ points beachs do verão “ como um janeiro de verão mesmo ... A temporada de Peixe – TO começaria no dia 26 com o show do Araketu da Bahia ... E aqui em Itapiratins a praia tem a areia alvinha ....




Dia 28 de Junho

         Eu vi mamãe Oxum na cachoeira , sentada na beira do rio, colhendo lírio, lírio eh, colhendo lírio , lírio ah, colhendo lírio para enfeitar o seu congar... colhendo lírio,  lírio eh , colhendo lírio, lírio  ah , colhendo lírio para enfeitar o seu congar... ( Zeca baleiro , maranhese, filho de Sr. Tonico Santos ).Acabamos de sair da linda Pedro Afonso ...



Dia 28 de Junho – No barco...

      Ficamos uma semana de Aldeias Indígenas , estou toda pintada de Jenipapo e Urucum ( a pintura corporal é um importante adorno da cultura indígena, pois tem funções que ilustram qual clã você é pertencente , espanta mosquitos e acredito eu que “ maus espíritos” também ...) e ainda é um requinte diferencial na festa. Todos estão pintados. Ficamos com o Sr . Samuel indígena chamada de Waikarón uma semana, maravilhoso estar com ele... Eu e ele tivemos 3 aulas importantes relacionadas a cultura Xerente e a língua em especifico... Em minha aula 1 – estávamos na Aldeia Bela Vista , no escuro somente céu estrelado , eu , ele , meu gravador e dps o Dedé... Nessa aula aprendi o famoso “Psedi” e sobre como os mesmos se referem aos pais, irmãos , tios , familiares em geral . E também aprendi sobre o ritual dos namoros antes e do séc XXI e sobre os comprimentos cotidianos dentro das aldeias. Na aula 2 já no barco aprendi a denominar os peixes ( Tebê) que eles viam no rio ... E na aula 3 aprendi sobre os clãs, a “corrida de tora” e sobre as pinturas corporais. Sei que ele irá se tornar um grande ancião daqui há algum tempo. Aliás, não tenho dúvida.   

         Ao chegarmos na festa indígena no qual íamos permanecer por dois dias , chegamos vimos os “ anciãos”, fomos apresentados a Elza indígena ( pois a Taba dela seria onde nos alimentaríamos)e começamos tentar ambientarmos com a paisagem Xerente ... Eu já havia dito ao Waikarón que eu iria me pintar . Ele rapidamente me destinou a uma Taba e uma indígena... lá era uma Taba-clã , onde os dele estavam reunidos, na hora em que eu cheguei estavam todos sentados ao ar livres homens e mulheres- veio um indígena jovem o Maurício e disse:  pode ir lá se pintar ... daí Suely uma indígena de 17 anos perguntou se eu não ia tirar a roupa . Daí pensei : não consigo tirar minha roupa aqui...então pedi para entrarmos para a Taba ... e daí tirei a roupa e me entreguei ao Jenipapo e ao tipo de pintura do meu clã...

         Presenciamos duas “ corridas de tora “,  o ritual de nomear as crianças e adultos e a brincadeira da noite , onde todos dançam juntos e abraçados. Ao perguntar para Samuel sobre qual seria meu nome ele disse Waktadi , mas não explicou muito... Quando foi no domingo desci ao clã de Sr Justiniano Saurapité e sua esposa Isabel ( indígena já anciã) , para medir meu braço para que pudesse fazer meus novos braceletes de capim-dourado , sentada junto a indígena , D. Isabel Wakdi me chamou e falou que queria falar comigo daí fui lá e ela me perguntou se eu queria receber meu nome indígena ( pensei que  mais uma vez ia ter que falar  que tinha vergonha de tirar a blusa...). Daí ela disse:  se a gte moresse de vergonha  ao tirar a roupa a gte já ia nascer morto ... “ Pois bem, depois disso fiquei em dúvida e pensei também em consultar a Flor para que participássemos do ritual juntas... poderia ficar de top e a indígena anciã com os seus grisalhos e grandes  peitos nus toda pintada com a tradição de seu clã me levou até o Cacique para arrumar um “ tio” para mim e outro para a Flor... Waikarón seria meu tio...( o tio além de denominar a pessoa tem a mesma responsabilidade do pai junto a sua sobrinha), ele pediu que as mulheres me arrumassem , uma indígena chamada Cristine tipo 40, 50 anos , foi no mato e pegou uma espécie de seringueira ( que mais  tarde vim a descobri que era Mangaba) que tinha uma espécie de cola e trouxe vários algodões colhidos na hora. A mesma  começou a quebrar as folhas e colar as bolinhas em mim... os indígenas já estavam em roda dançando e cantando em círculo, entrei ali com a Cristine e nas minhas costas e na minha frente tinha uma parente de Waikarón . Segundo a tradição é preciso mulheres para dançar no ritual , elas dançariam para mim. Eu em círculo uma na minha frente e outra atrás segurando a minha cintura , dançamos todos ao som do mantra indígena e do son dos cajados. Passamos em fila e formamos três círculos ao longo do caminho, no terceiro Waikarón me tirou da roda junto com as mulheres uma em minha frentebe outra atrás e me disse olhando no olho e falando baixo : seu nome é confirmado Waktadi ! Continuei a escutar os mantras e muito feliz voltei para meu clã - agora de pintura , tiara indígena, e nome... háháhá  nome indígena !  



Dia 21 de Junho – Aldeia Porteira com o ancião Sr. Severiano

            Ele pergunta em meio ao ritual de discursso cerimonial : quem é que estava dançando e na terra com um maracazinho ? A caça acabou por causa do “branco” . O “ branco” acaba com tudo. Colocou que os indígenas buscavam sal “de pés”, e que demorava tanto que eles saim de lá de cabelo curto e chegavam com o cabelo grande ...  E ainda também citou que faziam balsas de buriti . Daí lembrei da casinha da arvore de  em Alcântara – Pousada Bela Vista – MA... uma hora dessas no ano passado estava lá em uma casinha na árvore e vivendo uma manifestação “demais” de Divino Espírito Santo ( que boa lembrança!).

Aprendemos muitas coisas com Samuel – Waikarón – indígena ancião que se tornou meu “Tio” e me deu meu nome “ WAKTADI – flores de cachos amarelos ou pente ...” ele falou sobre o tempo e o sal – quando ele começa a derreter é um sinal de chuva ... isso me lembrou minha mãe pq ela também falava disso – que saudades dela ! Isso foi na minha infância ...




Dia 20 de Junho – Tocantínia – TO Territério Indígena Xerente

            Essa miscelânea de “povo” na Praça de Tocantínia é legal demais – são tantos indígenas – precisamente agora “uma” anda com um bouquet de capim- dourado... uma espécie de Paepalanthus  linda aqui do TO. Onde se olha se vê o dourado desse caule e flor ... brilhante que nem o sol ...Dourado para OXUM.



            De Miracema olhando para o porto de Tocantínia na beira do rio do TO ... lembrei de : “ eu te quero só pra mim, vc mora em meu coração , não me deixe só aqui esperando mais um verão , te espero meu bem para a gte se amar dinovo ... ninar vc nas quatro estações relembrar ... o tempo que passamos juntos vou reviver , andar de mão dada na beira da praia em sempre sonhei ... ( TIMBALADA- BA). Sai chiando voadeira veia de saudade ! kkk .

Dia 15 de Junho

            Ante ontem conversei com o Felippe... e me lembrei aqui agora sentada em uma beira de praia linda no TO ... ele dizendo : pense , esse mundo quase começa e acaba no mesmo lugar ... aí eu não entendi muito e daí ele disse : a gente andou tanto por esse mundo e acabamos voltando para o mesmo lugar ... porque o bom filho a casa torna ! E daí lembrei : porque vcs não sabeis do lixo ocidental – não precisa mais temer , não precisa da solidão todo o dia é dia de viver ... eu sou da América do Sul ... eu sei vcs não vão saber ...mas agora sou caubói , sou do ouro eu sou vcs – sou do mundo eu sou MG ! kkkkkkkk. Bom dia ! ( Clube da Esquina ) 


Dia 14 de Junho – Em Palmas – TO  na Praça dos Girassóis – Segunda maior praça em extensão do mundo ....

            Agora é por-do-sol estou andando só por essa praça e rezando , agradecendo por toda a trajetória de minha vida ... O céu tem tom de por-do-sol, com a Lua crescente prateada e um silêncio característico da hora da mudança energética do dia... Acabei de sair da FUNAI para estabelecermos o contato formal com a instituição... daqui há pouco estaremos nos XERENTE e depois nos APINAGÉS...que delícia poder ficar com eles e viver também um pouco da história deles como canoeiros e navegadores ...Ao conversar com a Joana Munduruku hoje mais cedo, ela colocou a localização dos Kalunga – GO, na região dos “ Cara – pintadas  AVÁ-CANOEIROS ” ... Evolução de saber –fazer em particularidades geográficas ... precisamente, isso é Territorialidade: primeiro os indígenas navegadores, depois os quilombolas navegadores, depois todos juntos ( ou não ?), mas com recorte de “saberes e fazeres “ interessante – para chegar até o Belém !


Dia 13 de Junho - Em Palmas - TO


     Ao conversar com a Joana Munduruku descobrimos coisas muito legais - pelo menos eu descobri ... o relato dela sobre a documentação de Sr. Bena ( comerciante e coronel poderoso da região de Peixe e completamente vivo na memória das pessoas ao longo do rio do TO, na região de Peixe e etc), e aliás, vivo até um tempo bem próximo ..veio nos revelar que junto a família de Sr. Bena tem 32 cadernos de memória da Rota do Sal , escritos por ele em sua várias idas de barco á Belém para buscar sal ... e que ainda ele tem vários vidrinhos com extratos de uso fitoterápicos usados e vendidos por ele para a população local e do entorno... esse comércio ele mantinha com as terras do Maranhão na região de Bacabal ( que maravilha - as vezes sei que a minha história e a do MA ... vão se cruzando e entrelaçando de uma forma muito respeitosa e sólida )... Daí pensei em todos os cadernos de viagem e memórias que já escrevi e venho escrevendo ..e gosto de lembrar como foi bom a viagem pela a Rota das Emoções , sozinha, no qual voltei a escrever por querer ver tudo e registrar essa memória .. mas também para passar o tempo para chegar em casa e ver o Yuri ...Ainda bem que tenho isso escrito nos meus relatos de viagem e vida ... esse aqui, é mais um desses... ( risos) .  





Casa Comercial de Sr. Bena  Peixe TO

Dia 12 de Junho - Domingo ....Sobre o amor ...


     Sei que nesse dia eu  pensei no amor ... mas foi um pensamento tão distante dessa data comemorativa .... na verdade só fui me dar conta que era o "Dia dos Namorados" e que todos os meus ex- amores estavam ou não, com as suas respectivas e atuais mulheres tipo sei lá 15:00 ... pensei que to bem demais assim : de coração livre . O murmúrio de uma dor calada que doeu por tanto tempo e que quase na hora do alívio trazido pela a brisa de um novo amor ...( suspiros), esse também acabou... e ficou. Ficou para trás amores e dores de cores vibrantes e pálidas,  tristes, sólidas e solitárias ...  pesadas de carregar no saco de ossos... mas que agora n-a-o tinha mais nenhum saco de osso que carregasse fragmentos dessa espécie ..e sim carregava a vibração e a leveza de uma mulher livre - de coração livre - não para amar dinovo ... mas sim para se amar , se sentir, estar feliz por ter liberto de amarras tão bem atadas no passado e maléficas demais com todos os seus nós ...que bom que as coisas acabam também. Enquanto isso vou balançando no rio do TO esperando o meu outro amor chegar ... pq agora sim eu estou pronta - por estar liberta ! Que delícia ...

Dia 11 de Junho na Praça da Igreja linda em Porto Nacional - TO

     Entrevistamos  o cantor Everton dos Andes antes de partir - legal essa entrevista .. o pai dele foi um dos membros da banda de Jazz chamda Cruzeiro do Sul na década de 40 ! e ele contando e comentando , cantando e encantando tudo que contou , citou a Lenda da Buiúna ( uma grande cobra que mora no rio do TO ), e da noite em que o coreto da praça central misteriosamente desapareceu : Segundo ele a grande cobra tinha sua cabeça enterrada embaixo do coreto que " desapareceu na calada da noite " ..e que seu rabo estava enterrado embaixo da Igreja ...A lenda dizia que se ela escapasse Porto iria alagar ...e daí me perguntei - será que não é o grande imaginário da "Orobus "a serpente cobra que vai afundar a Ilha de São Luís qdo engolir seu rabo ? ( risos).

Dia 10 de Junho em Porto Nacional - TO
  
     Em Porto Nacional sozinha: os meninos foram gravar a tomada do helicóptero em Palmas ...( capital do TO) ...

Dia 06 de junho - Em Porto Nacional - TO

    Estou em Porto Nacional a resolver " pepinos" de produção ... as contrapartidas nem sempre chegam junto com o nosso tempo de remada ! ( kkk)..., hoje estou fora do rio do TO, mais uma vez.. a turma vem remando e aportará ak por volta das 17:00, 17:30. Até lá, tudo estará resolvido ...

Dia 05 de Junho ...Domingo na Comunidade Quilombola de Curralinho em Brejinho de Nazaré- TO

     Desde que chegamos com uma recepção super interessante tanto da Prefeitura local como também do articulador André a questão da " certidão" de reconhecimento das comunidades quilombolas do município foi assunto de pauta .... Daí que visitamos a D. Alice ( Prof antiga e moradora do pé de uma Serra ...) .A memória deles contava sobre o garimpo local , a antiga população tanto da comunidade qto da escola : antes a escolinha chegou a ter 88 alunos matriculados  e hoje a mesma está fechada porque não tem mais "alunos"...E ainda citou o importante festejo de Santo Antônio que acontecia todos os anos com muita alegria advindos do cuidado e herança que D. Mundoca - (realizadora anualmente da festa), presente  em sua comemoração... Sobre as " coisas " que não tinham mais D. Alice ainda citou o tear que agora estaria em fase de re-montagem e revitalização ... pois sua mãe havia deixado uma parte de seu tear com a D. Mundoca ...e que agora após sua morte ..estaria voltando a trabalhar com " os algodões e os tecidos que faziam as redes e as roupas" de todo esse povo que lá, não existia mais ...Pois agora D. Alice voltaria a tecer ...
Por um instante ela em seu lamento solitário das questões jurídico burocráticas de posse da terra comum local - agora possivelmente denominada de  quilombo , olhou para mim e disse : Ocê poderia dá uma força para nós minha fia - nessas coisas de quilombo ". Olhei bem dentro do olho dela e pensei que : uns querem sair do quilombo, outros sairão e voltarão para o quilombo e que outros nunca deixaram de estar no quilombo ... Esse, é o meu caso .

                                                            
                                               D. Alice 65 anos- Comunidade quase quilombola de Curralinho - TO
Dia 17 de Junho – Miracema do Norte – TO   
Dia 4 de Junho - Pela manhã em Brejinho de Nazaré - TO

        Hoje eu já chorei olhando o céu azul sentada na praça ... acordei cantalorando: " lembro o olhar, lembro o lugar meu vulto amado...lembro o sorriso e o paraíso que tive ao seu lado..lembro a saudade que hoje invade os dias meus ...lembro o olhar e o lugar do triste adeus"... Daí liguei para a Tia Lúcia em BH e pedi a ela para cantar ...

Dia 2 de Junho - Pela manhã ...em Ipuéiras - TO

      Ouvi alguém dizer sobre a Sr. de 107 anos que ali morava ... fui visitá-la pq queria marcar um horário para entrevistá-la ... na hora em que cheguei em sua casa fiquei do lado de fora ouvindo a mesma falar com a Gilsimar ( pessoa que ia me apresenta-la)... na hora em que ela apareceu,  me deu uma coisa, que não soube explicar - era meio um mix de ver uma pessoa bem pequena que andava em direção a mim com as suas pernas já cansadas do tempo e um olho muito vivo para me olhar e saber quem eu era ... dái pensei : ela realmente é uma bruxa ... e de Avalon ...Ao me ver ela falava que eu tinha os olhos redondos tipo de um bicho e que ela não sabia de qual era ..repetiu isso muitas vezes... a tarde qdo chegeui lá com o Cardo e o Dedé ela não hesitou em apontar para o Dedé e falar : é aquele ali que é seu né ? ( risos)...Ela foi se adaptando a mim e eu fui conduzindo a entrevista acompanhada de sua surdez... Ela me olhava perguntava pq que eu tinha um pau na orelha ...pq usava aquele monte de cordões e concluiu que : eu tinha xita nas costas .... ( isso foi o máximo! ao entender que para ela a forma mais fácil de se referir as minhas flores tatuadas era a comparar com um pano colorido e florido...)E mais tarde ela me perguntou: mas menina, esses oió seu, não dói não ... eita zóio de mucura ...

Dia 31 de Maio - A noite ...
      
        No dia de hoje a remada foi demais ! Já não estávamos nos lagos originados das " barragens usinísticas " e sim no Grande Tocantins! Lindo, vivo, correnteza de vida e de vidas ...( esqueci...). As nuvens se misturavam em 2, 3 tipos no céu que tinha riscos brancos - Ao sair de Peixe - no qual a receptividade nos confortou após sermos agraciados e abençoados com a Bandeira do Festejo do Divino Espiríto Santo, tomei um banho rápido na imensidão do Rio... E me emocionei ao pensar  que viajaria ( e que já estava viajando) , pelo o Rio visado para a integração nacional desde o Séc XVI, XVII... e que em pleno Séc XXI estávamos fazendo ele a remo ! Até o Belém !!!!  
        Quando ainda estava em BH, fiquei pensando sobre o que eu vinha fazer nessa Rota - e ao mesmo tempo eu me respondia: Uai vc é tão filha de Oxumaré com Oxum e pede tanto para estar na água que até ganha de presente morar dentro de um rio por 4 meses( risos)... E daí sempre canto no rio do TO e como sempre faço quando estou na água : " minha jangada vai sair pro mar , vou trabalhar meu bem querer, viaja eh se embalaaa, me leva Olodum nessa onda que eu quero ir - oh... Olorum aé! Janaínaaaa , mar mar , maré - boca água ...Sobá... ( Olodum - BA ). E ainda : "Oxumaré - ohoh , Oxumaré ...ayá, ayá...ayá..ayá" ( Casa Fanti Ashanti, São Luís - MA). E até lembro do coro forte , firme e emocionante da Casa de Papai Euclides.

Dia 27 de Maio - Em entrevista no Peixe -TO ( Sr. Abelino Póvoa 77 anos, Hotel Mineirinho)

      É engraçado ( não sei se a palavra é essa mesma), perceber o estado de "medo" e alerta da população com relação a represa... O imaginário e a realidade referentes a possibilidade dela estourar ...
      Me emocionei com o depoimento de D. Deuzinha de 93 anos: pensava eu no tempo, na memória, no tempo da memória, nas memórias delas e nas minhas ... E também sobre como aquilo tudo ao ser perguntado remexia no baú dela e no meu também...Pensar e saber que um dia você será ( como já é), um baú de lembranças que me vem que nem os agradavéis Antiquários da Rua Iatepecirica em Belo Horizonte. O cheiro do mofo, o baú do mofo... e a história de um guardado em "mémorias"... Quando D. Deuzinha contou sobre seus feitos: como a fala dela ao dizer que fez o muro do cemitério porque as almas estavam todas sendo assaltadas só com o muro de arame farpado ... e como ela construiu a casa para colocar as mulheres que estavam em trabalho de parto ou em período de pós parto... Bonita essa história ( Parteira local, 93 anos , 3.822 partos - com um marcado ainda para junho de 2011).

Dia 25 de Maio - De manhã no rio ...

        A paisagem é brilhante: o sol quente e o céu azul com as nuvens que parecem estar distibuídas em camadas , é demais... Porém, o alagamentopara a cosntrução da Usina, geraum enorme " Cemitério de árvores" na pasiagem - um mix de troncos, céu e brilho da água , que parecem uma enorme instalação a lá INHOTIM...

Dia 21 de Maio – Ao entardecer ....

            Tudo está lembrando vó: cheiros, sabores, memórias. A minha “memória”... é interessante todo o porcesso de busca da “ memória”. E daí sempre lembro de Rita de Cássia Almeida(UFSCAR,2010),dizendo que  “ os velhos têm uma função:a de guardar a m-e-m-ó-r-i-a”.   
             O Divino e seu vermelho misturam-se ao azul do céu de brigadeiro dessa manhã como também ao da Igreja de São João Batista em Paranã...Venho pedindo minhas graças e pensando no Divino em minha vida. As vezes, me emociono. ( 15:06 PM).

Dia 18 de Maio – No café da manhã

            Acabei de tomar café com o Guto Baxter  e estou aguardando a Prefeita local. Ontem falamos sobre algumas hipóteses da Rota: segundo o Gú e o que conseguiram levantar ... no Kalunga: a memória da memória já está se perdendo ...e que daqui há três anos não existirão mais “ as pessoas da memória”...[1]. E sobre a  questão “ dos Entrepostos comerciais” e , possivelmente e consequentemente a formação dos povoados: foram citadas as possibilidades de que algumas mulheres iam nas embarcações e não voltavam ..... elas poderiam ser as fundadoras e comerciantes nesses pontos de comércio[2] . E que : se realmente eles chegavam no Pará- Belém ( ?), ou se também tinham as salinas do MA como ponto de busca do Sal .......Ou mais, se o Fluxo fluvial comercial tocantínio, ao longo de sua trajetória, não era intermediado também por outros líderes comerciais de outras localidades diminuindo a distância entre o caminho – mas também fortalecendo a hipótese de que nossos possíveis pontos estipulados para esses encontros entre comerciantes, essencialmente contribuíram para a formação desses “entrepostos” [3]. Estamos no aguardo de Flor, Emerson, Dedé e Cardes. Eu, Ton e Guto Baxter.

..... A visita a D. Floracy me deixou muito feliz. A memória dela traz detalhes muito completos ( acredito eu), dentro da ótica que viemos buscar. Como Bacia Hidrográfica ela me colocou a questão da Bacia do Paranã, a Bacia do Palmas e a bacia ( que alguns chamam de “ Piratininga”), mas ela se referiu como Rio Maranhão (como já li em escritos). E ela também citou o “ Vão do Paranã”.Colocou que há uns 20, 30 km o rio torna-se o Rio Tocantins.[4] Sobre os Kalungas, foi dito sobre a dispersão deles pela região como na Comunidade Quilombola do Albino e como a do Mucambo[5]. Ainda cita a viagem para Belém e traz que os locais que compunham a viagem e ao longo da prática da mesma, os Kalungas foram se juntando aos comerciários locais e também foram tornando-se comerciantes...[6] Segundo a mesma, ao eu perguntar sobre D. Ninhara, ela colocou ser do tronco familiar da mesma e colocou que a Sr, pode ser Tataravó de seus bisavôs..( com essa fala a gente pode se aproximar  do cronograma histórico temporal do trajeto comercial a Belèm) . E que a prática da busca do Sal em Barreiras- BA, foi depois.[7]  Das embarcações ela cita “os ganchos” , citados no Trailler do filme a Rota do Sal, como também no Olhar Kalunga : “ Uai como é que esses bichos viajavam ? era com gancho e com furquilha ...” ( Sr. Casimiro , Paranã)[8]. A viagem para Barreiras não tinha dinheiro papel. Era o “espicho”, que servia para a venda , esse, era “tudo em quanto há : crina de animal, pena e etc”. E lá eles vendiam, faziam moeda papel, compravam o Sal que era pouco e também quase uma especiaria.....

            Dando continuidade a nossa conversa falamos da Festa do Divino local, como também da comemoração na Comunidade do Mucambo a Nossa Senhora do Rosário... A Festa do Divino aqui acontece em 25 de Junho. Porém , 1 mês antes as “ Folias do Divino Espírito Santo,começam a visitar as “casas- recepção” e  depois ( nesse ano de 2011 dia 22 de maio), mensageiros são preparados e caminham por 30 dias pelo o Sertão levando a Bíblia da Festa e a mobilização local. No dia da Festa em junho eles já voltaram .... Ao ver D. Floracy falar , citei o Divino de Alcantara, MA... Ela comentou que por volta de 1950 estudava com uma moça que era de lá e que essa contava sobre as festas do MA e ela citava as do TO. “ Mas que foi nesse momento que ela descobriu que tudo, é a mesma coisa ..”.( Lindo! Ótimo grifo meu e risos....).( D. Floracy, 2011, Paranã-TO, Brasil).     



[1] Hipóteses e memórias de “conversas”
[2]Hipóteses e memórias de “conversas”

[3] Hipóteses e memórias de “conversas
[4] Citação D. Floracy – Paranã TO.
[5]Citação D. Floracy – Paranã TO
[6] Citação D. Floracy – Paranã TO
[7] Citação D. Floracy – Paranã TO
[8] Citação Sr Casimiro – Paranã TO



  Dia 17 de Maio – Terça Feira pela manhã

            Hoje conversando com a D. Florentina ( auxiliar de serviços da Pousada Ilha das  Palmas), “ descobri “, que aqui é mais Kalunga do que imaginamos............. ou do que eu imaginava ..... Florentina não falou nada sobre o Sal..... mas citou o quilombo do Albino.

Dia 16 de Maio de 2011 – Segunda a noite

            “To” aqui em uma praça do Paranã -TO...... Esperando um sanduíche de almoço ( ..e já são 20:55 ). “ To” querendo ver os meninos e cair logo nesse rio....começar mesmo. As perguntas sobre o Sal, já venho fazendo desde ontem em Palmas. Como sabemos, existiam outros caminhos.... e o da lembrança e na lembrança de muitas pessoas......:  aqui , Barreiras-BA, era um grande caminho.

 Dia 15 de Maio de 2011 – Domingo a noite

Estou no aeroporto de BSB, engraçado e lúdico : precisamente no aeroshopping ... To voltando da Ilha ........ e descendo para Palmas ( PWT), aliás, agora em minha posição geográfica – subindo para o TO. Acabei de jantar uma massa....Pois na Rota , tudo pode ser , não sei o que  sinto......