quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Estamos em Tucuruí do Pará




Vencemos o quarto e último represamento do rio para hidrelétrica. Foram cinco dias intensos de remadas duras, todo o tempo seguindo contra o vento. A hidrelétrica de Tucuruí é realmente monstruosa no tamanho de seu reservatório. Foi a mais difícil de todas. O vento e o banzeiro tornaram nossas remadas deveras pesada. Não chegamos a passar pelas faladas e perigosas tempestades de banzeiro, que segundo ribeirinhos chegam a formar ondas do tamanho de uma casa. Em alguns momentos navegamos a 5 kms por hora, a menor velocidade de toda a expedição. Deixando Marabá, ainda percorremos um trecho de rio até Itupiranga. O rio de largura fenomenal, se abria em diversos canais e a transformação da paisagem se completava, estávamos de fato em ambiente amazônico.
Agora temos como barco de apoio o São Jorge, comandado pelo Zé do Rádio, e pilotado pelo Besouro, dois figuras que viveram toda suas vidas no rio e que contratamos para serem nossos guias. Colhemos algumas histórias interessantes durante estes dias de água parada e sol quente. Na vila Taury, ouvimos histórias sobre a cachoeira do Taury, ou como é conhecida localmente, cachoeira do `Lourenção`: os naufrágios, a origem do lugar, os períodos da borracha, da castanha, e do diamante. Conversamos com alguns moradores das ilhas que se formaram a partir do represamento do rio, São lugares que despertam um grande sentimento de solidão e coincidência ou não acampamos em duas ilhas habitadas apenas por um morador, Pessoas simples e de coração aberto que logo se dispuseram a nos abrigar e nos contaram um pouco de suas histórias.
A imensidão de fato impressiona a retina, e a proximidade com a floresta é coisa de filme. Nossos acampamentos, agora podem ser feitos inclusive dentro do barco “São Jorge” que precisa apenas estar ancorado em lugar seguro e protegido do vento. A paisagem sempre paradisíaca, cercados pela floresta equatorial e com trilha sonora pseudoeletrônica de dezenas, ou diria centenas de macacos guariba que todos os dias ouvíamos bem perto de nossos pousos.
Completamos nossa chegada no quinto dia, em um lugar chamado Onze, uma vila de pescadores bem em frente a barragem. Alí graças ao nosso patrocínio da Eletrobras, conseguimos articular um contato com o operador da eclusa de Tucuruí, Recém inaugurada a eclusa ainda está em fase de testes e implementação. Fomos recebidos pelo Inaldo e Carlos Gil, que após nos explicarem o processo que iríamos adotar e combinaram para o dia seguinte nossa “inauguração” da eclusa. Agradecemos a Eletronorte – Tucuruí pela forma que fomos recebidos.
Zé do rádio, Besouro, o velho barco Saõ Jorge, e a tripulação da expedição rota do sal foram alguns dos primeiros civis e ribeirinhos a testarem a maior eclusa da America Latina. Dentro das duas enormes câmeras de “eclusagem”, foi visível a emoção e a comoção de nossos barqueiros, e amigos. Sozinho lá dentro, o velho barco “São Jorge” ouvia o ranger da água e o escorrer dos ferros enquanto a enorme caixa dágua se esvaziava o barco ia descendo lentamente relembrando sua própria história de velho navegante de madeira. Abriu - se a última grande porta e literalmente vazamos ao baixo Tocantins e tivemos com o porto da cidade de Tucuruí.
Acompanharam também e muito acrescentaram com suas experiências de mateiros amazônicos, os bombeiros da corporação de Marabá, dos quais fazemos questão de agradecer nominalmente o Sargento Aurino, o Cabo Belém e Cabo Filho todos nascidos e criados nas ribeiras do Tocantins, se mostraram companheiros de grande valor em nossa travessia do grande lago monstro de sete cabeças.